SECA NO BRASIL: O HOMEM, A TERRA E A LUTA

Seca no Brasil: O Homem, a Terra e a Luta

Por Ailton Francisco da Rocha[1]

 

O “Quinze”, primeiro e mais popular romance de Rachel de Queiroz se refere a grande seca de 1915, vivida pela escritora em sua infância. O romance se dá em dois planos, um enfocando o vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro a relação afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima culta e professora. “Vidas Secas” romance de Graciliano Ramos publicado em 1938, narra a história da retirada de uma família de nordestinos por causa da seca. Através da narrativa, o leitor entra em contato com o sertão e o sofrimento da família de Fabiano. O nordestino que vive na seca é retratado com sua fome e a necessidade de migrar pelo sertão. Muitos outros escritores e cantores populares registraram nas suas inspirações as agruras do nordestino diante do drama da seca.

Seca é um fenômeno natural de desvio do clima de longo prazo. No entanto, é importante distinguir a seca da aridez e a seca de escassez de água. Aridez é uma característica permanente de um clima seco. Já escassez de água ocorre quando a humanidade usa mais água do que há disponível naturalmente, nos ensina Antônio Rocha Magalhães.

A desertificação é uma degradação permanente da terra em áreas semiáridas e subúmidas secas. A seca e a escassez de água podem contribuir para a desertificação, mas as razões principais são o sobrepastoreio, o aumento da frequência de incêndios, o desmatamento e a extração exagerada das águas subterrâneas. Todos estes elementos estão presentes no Nordeste do Brasil, uma região cada vez mais sujeita aos impactos exacerbadores das mudanças climáticas. Acontece aqui o que se convencionou chamar de “ciclo hidro-ilógico” uma expressão criada pelo Professor Donald Wilhite, da Universidade de Nebraska. Na verdade, a seca e a semiaridez são componentes permanentes do cenário do interior do Nordeste. São as atividades humanas que precisam se adaptar às condições do Semiárido e não o contrário.

Até agora as respostas governamentais têm sido reativas: decide-se o que fazer quando uma nova seca acontece. Essa situação precisa mudar. O Brasil precisa caminhar em direção a uma política proativa para o enfrentamento dos impactos da seca, que consiste num marco orientador composto de três pilares: monitoramento e previsão/alerta precoce; avaliação de vulnerabilidade/resiliência e de impacto e mitigação e planejamento e medidas de respostas. Eles correspondem a instrumentos de uma política de preparação para a seca. A gestão de secas no Brasil necessita avançar de uma abordagem de gestão de crise para uma abordagem baseada na gestão de risco. Isto resultará na redução de custos e de impactos sociais e econômicos associados às secas.

 

[1] Advogado, Engenheiro Agrônomo, Escritor e Superintendente de Recursos Hídricos da Semarh/SE.

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