O Brasil está construindo o novo Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e infelizmente boa parte da sociedade brasileira nem sabe disso.
O Observatório da Governança das Águas (OGA Brasil) que se colocou a tarefa de monitorar a governança das águas e o processo de construção do PNRH, reforça as preocupações com a metodologia que está sendo construído o Plano.
Conforme a 1ª nota sobre o PNRH que pode ser lida neste link: https://observatoriodasaguas.org/a-forma-de-construcao-do-plano-nacional-de-recursos-hidricos-pnrh-e-estrategica-para-a-governanca-das-aguas-no-brasil/, reforçamos a preocupação com a construção do mesmo.
Da forma como o PNRH vem sendo construído, avaliamos que ele está fortalecendo uma visão compartimentada e desarticulada entre setores e temas, as oficinas por setores inclusive, coloca cada setor na defensiva, quando a discussão e a construção do PNRH, precisa integrar os atores, temas para obtenção de uma visão sistêmica e integrada dos desafios para garantir água em quantidade e qualidade para todos os usos, inclusive para os ecossistemas aquáticos.
O método e a discussão do novo PNRH não estão deixando claras, a necessidade e a importância da integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental, do manejo e uso do solo na área urbana, da necessidade da incorporação das mudanças climáticas no planejamento do setor, dos desafios da segurança hídrica em especial para as regiões metropolitanas, do reuso da água, da falta do saneamento e da poluição dos rios.
Ainda sobre o método de construção do PNRH, houve muita demora em divulgar os relatórios das Oficinas já realizadas, o que poderia ocasionar desconfiança, expondo uma falta de transparência e principalmente não permite que os atores vejam como está evoluindo a construção do novo PNRH.
É fundamental para quem participou das oficinas, saber se suas propostas foram anotadas de forma adequada, para inclusive colaborar com a correção dos relatos.
Ainda sobre as Oficinas, no próximo dia 25 de junho de 2021 acontecerá a Oficina da Sociedade Civil. A programação e a metodologia da Oficina, pode ser acessada aqui: https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/seguranca-hidrica/plano-nacional-de-recursos-hidricos-1/Programa_OficinaSociedadeCivil.pdf
A partir da observação de membros da rede do OGA fazemos os seguintes questionamentos: 1 – Qual a justificativa da proposta de separação em grupos a partir dos temas propostos para a discussão? 2 – Onde entram as Organizações não governamentais que tem sua representação em diversos Comitês de Bacias e ao que parece não estão sendo consideradas na metodologia da Oficina? Está sendo feita uma mobilização para garantir a participação de quem trabalha com os temas – Gênero, Juventude e Comunidade Indígena? De que forma, as organizações da sociedade civil discutirão os temas – Saneamento, Energia, Agricultura e Irrigação, Indústria e Mineração, Transporte Aquaviário, Pesca, Turismo e Lazer?; considerando que estes podem trazer impactos para toda a sociedade e ainda que foram discutidos setorialmente em Oficinas anteriores.
Em relação à participação social, a discussão e a construção do novo PNRH continua muito restrito aos atores que já participam da gestão das águas no Brasil e mesmo assim, o método de inscrição para participação não melhorou a ponto de dizermos que estes atores estão sendo atingidos e mobilizados.
Para mobilizar os atores para contribuírem com a construção do Plano Nacional de Recursos Hídricos em tempos de pandemia, é necessário contar com mais do que o valoroso esforço das organizações e estruturas do SINGREH, como os Comitês de Bacias, as coordenações dos Fóruns Nacional e Estaduais de Comitês e todas as outras; é necessário elaborar uma estratégia de mobilização e divulgação do processo de construção do PNRH.
Além disso, teria sido uma escolha importante dos responsáveis pela organização e condução da construção do novo PNRH, obterem recursos para mobilizar atores que ainda estão fora da gestão de recursos hídricos para participarem do novo PNRH e para campanhas de divulgação do novo PNRH.
Reafirmamos aqui que é fundamental que as instâncias do SINGREH sejam convocadas para avaliar o processo de construção até agora, nos parece que alguns rumos precisam ser corrigidos, sob pena do documento final do novo PNRH não preparar a governança e a gestão das águas de forma estratégica para enfrentar futuras “crises hídricas” e futuros conflitos pelo uso da água.
Da forma como o PNRH vem sendo construído, preocupa-nos que a tendência é de privilegiar alguns setores econômicos em detrimento de garantir usos múltiplos, inclusive em detrimento da manutenção de água para a segurança hídrica e o abastecimento da população.
O OGA BRASIL
O OGA Brasil é uma rede multissetorial que reúne 61 instituições do poder público, setor privado e organizações da sociedade civil e 20 pesquisadores que tem a missão de gerar, sistematizar, analisar e difundir as práticas de governança das águas pelos atores e instâncias do SINGREH, por meio do acompanhamento de suas ações.
OBSERVATÓRIO DA GOVERNANÇA DAS ÁGUAS – JUNHO DE 2021.